Hipersensibilidade auditiva na infância: quando ouvir se torna um desconforto
Com exercícios personalizados, o treinamento auditivo ajuda pessoas com transtorno de Processamento Auditivo Central a compreender melhor os sons.
A terapia de PAC, ou treinamento auditivo acusticamente controlado, é indicada para adultos e crianças que apresentaram alterações na avaliação do processamento auditivo central.
Algumas pessoas parecem que vivem no “mundo da lua” são consideradas desatentas, distraídas, solicitam muitas vezes para repetir o que foi dito, tem dificuldades para entender piadas e/ou palavras de duplo sentido, se queixam de dificuldades de memorizar o que foi dito e/ou seguir instruções longas. Podem apresentar inabilidade para aprender outros idiomas, apesar de estudar bastante, dificuldades para manter a atenção em locais barulhentos, além de inabilidade para localizar a fonte sonora.
Nessas situações, pode ser solicitado a Avaliação de Processamento Auditivo, que é um exame que avalia como o indivíduo compreende diferentes informações sonoras em situações de escuta difícil. Antes da avaliação comportamental do processamento auditivo central, deve ser realizada a avaliação audiológica, composta por Audiometria Tonal, Logoaudiometria e Imitanciometria. Esses exames devem ser recentes e servem para medir o quanto a pessoa ouve um som e o compreende em uma situação de silêncio, além de verificar como está a mobilidade da membrana timpânica, dos ossículos da audição e como o som chega ao tronco encefálico (uma estrutura do sistema nervoso).
Quando um indivíduo apresenta dificuldades para compreender a informação sonora que não pode ser justificada por uma perda auditiva e/ou alteração cognitiva e realiza a avaliação comportamental do processamento auditivo central com resultados alterados para a faixa etária temos dois possíveis diagnósticos: para crianças até 6 anos 11 meses e 29 dias estamos diante de um atraso no desenvolvimento das habilidades auditivas centrais e para pessoas com resultados alterados no exame com 7 anos de idade ou mais, temos um transtorno do processamento auditivo central.
Independente do nome que for atribuído, quando há uma alteração na avaliação comportamental do processamento auditivo central, o indivíduo deve ser encaminhado para um processo de reabilitação auditiva com abordagem multidimensional que contemple modificações no ambiente e no comportamento, além do treinamento auditivo.
Basicamente, o Treinamento Auditivo consiste em exercícios específicos para estimular as habilidades auditivas, que tem como princípio a neuroplasticidade do cérebro. Esses exercícios podem ser realizados de diferentes maneiras e tem como objetivo final melhorar a comunicação em ambientes desafiadores, ou seja, em locais ruidosos, reverberantes e/ou com múltiplos falantes.
Como é realizado o treinamento auditivo?
O treinamento auditivo é realizado por um fonoaudiólogo que utiliza técnicas especificas e/ou combinadas. De maneira geral o treinamento auditivo pode ser realizado de três formas: 1) Em terapia fonoaudiológica (que inclui o treinamento auditivo neurocognitivo), 2) Utilizando controle do estímulo acústico (treinamento auditivo acusticamente controlado, antigamente conhecido como treinamento em cabina) e/ou 3) Computadorizado (utilizando softwares e/ou aplicativos desenvolvidos exclusivamente para essa função).
A escolha do método de reabilitação auditiva depende da idade do paciente e a presença ou não de outras dificuldades e é uma decisão conjunta entre o fonoaudiólogo, família, paciente e equipe multiprofissional. O treinamento auditivo pode ser realizado em pessoas com perda auditiva e/ou usuários de próteses auditivas ou implante coclear.
Cada tipo de treinamento auditivo tem suas vantagens e desvantagens, mas todos tem como princípio a neuroplasticidade, sendo assim, é importante a realização de exercícios complementares à sessão de reabilitação auditiva para maximizar a plasticidade do sistema auditivo e reduzir o tempo que esse indivíduo ficará em terapia.
O tipo de treinamento auditivo, o tempo que irá durar o processo de reabilitação, a duração das sessões, a quantidade de exercícios que devem ser realizados em casa, apresenta variações individuais e dependem da faixa etária, da presença de outras alterações, dos resultados da avaliação do processamento auditivo central, da motivação e do entendimento do paciente sobre as suas dificuldades auditivas e da realização das atividades complementares.
Quais suas indicações do Treinamento auditivo?
Algumas pessoas com perda auditiva mesmo após o processo de adaptação das próteses auditivas não conseguem perceber benefícios com a adaptação e/ou ainda permanecem com dificuldades para entender o novo mundo sonoro.
Essas dificuldades são mais comuns em indivíduos que passaram longos períodos em privação sensorial, pois não tinham detectado a perda auditiva e/ou não usavam adequadamente as próteses auditivas. Com a falta de estímulo, o cérebro “esquece” de alguns sons e quando a audição é melhorada, pode ocorrer estranhamento ou desconforto com diferentes tipos de som.
Nesses casos é importante realizar a avaliação do processamento auditivo e se os resultados forem alterados para a faixa etária, recomenda-se o treinamento auditivo.
Quais as vantagens desse treinamento
Com a realização dos exercícios de treinamento auditivo por algum tempo, ocorre uma mudança nas estruturas cerebrais, aumentando e fortalecendo as redes neurais responsáveis pelo processamento auditivo, o que melhora a compreensão da fala e diminui o esforço que o indivíduo faz para processar aquela informação sonora, afirma a Dra Adriana Andrade, fonoaudióloga da Fonotom.
Sabendo que a audição é um sentido fundamental para interagir com o mundo que nos rodeia, quando há uma melhora qualitativa e quantitativa no processamento da informação sonora, a comunicação fica mais fluída e indiretamente há uma melhora na qualidade de vida, pois as atividades sociais que envolvem situações de escuta tornam-se menos cansativa e mais prazerosa.